Alzira Ebe: Ao Tempo Em Mim
Ao Tempo Em Mim
Agora é o hoje e antes foi o ontem e depois será o amanhã.
Mas se houver amanhã, o depois será o agora e hoje será o antes que é o ontem que se foi.
Os antes, agora e depois são os ontem, hoje e amanhã que vão e voltam no inexorável passar do tempo.
Hoje estou no meu agora e uma angustia me aflige procurando entender o imensurável do infinito, do eterno e do sempre.
Como entender o antes, o agora e o depois de tudo sem entrar em contradição com minhas intuições mais básicas?
Se nada se cria, nada se perde e tudo se transforma isto é um sempre.
Minha medida do tempo é a vida que tem começo, meio e fim, voltando a ser o pó de antes ou a energia do depois.
Portanto nada vem do nada.
Então como explicar a existência de algo que é por definição tudo que há, ou seja, o Espaço e o Tempo?
Acostumada com os limites do tempo e espaço não consigo sequer imaginar um Universo que sempre existiu e que é uma imensidão sem fim.
Há milênios o filósofo grego Protágoras já dizia que “O homem é a medida de todas as coisas”.
Assim sendo, penso que o Universo não existia quando não havia quem o olhasse, o admirasse ou o observasse em toda sua grandeza e mutações.
O Universo só é real porque nós o vemos e é algo que posso aceitar sem muita angústia.
Agora sou o que vivi do antes até ontem.
O meu ontem passou veloz e meu agora num piscar de olhos se extingue.
Hoje penso, amo, sofro, me alegro e espero terminar amanhã o que comecei ontem.
Agora lembro o que fiz e o que deixei de fazer antes.
Se ontem fosse hoje, faria muito mais ou não faria nada.
Meu antes deixou lembranças que ficaram como um vai e vem de ondas na memória do agora.
Oh! A memória.
A memória nasceu com meu primeiro vagido e é a única referência que possuo para entender a sequência de todos os meus antes, agora e depois.
Num instante respiro fundo e fecho os olhos para buscar dentro de mim todo ontem que vivi e o amanhã que espero viver.
Concentro ar e sangue no cérebro, imergindo numa escuridão que se assemelha à noite estrelada onde vejo pontos de luz se movendo e explodindo em chuveiros brilhantes que se desfazem em vultos e sombras sucessivamente, como se eu vislumbrasse o meu sempre.
Do meu antes, coisas que pouco ou nada significaram surgem espontâneas no meu agora.
Foram meus ontem que me fizeram ser o que sou hoje.
Sei que deixei muitos agora sem me importar com os depois.
Amanhã posso querer algumas coisas em vez de outras que ficarão no meu ontem.
Hoje farei o que antes sonhei, mas sei também que nunca realizarei algo que deixei para amanhã.
Vivo no agora, relembro os meus ontem e se houver o amanhã não sei o que farei ou pensarei no depois.
Autora: Alzira Ebe Donadio Albino
Enviada por: Alzira Ebe (Avaré/SP)